para
Cristiano
Você sabia que as sequoias só existem na Califórnia? Pois é,
disso eu não sabia. Mas eu conhecia as sequoias de longa data, desde os tempos
do ginásio, hoje ensino fundamental. Ainda me recordo da foto no livro de geografia, aquele imenso caule com uma figura
humana ao lado, parecendo uma formiguinha.
Domingo passado estava eu, com meu sobrinho Cris,
falando-lhe de poesia, metáforas, aliterações; recursos que normalmente utilizo em minhas
composições. Sempre procuro promover essa interação, levando, de forma
lúdica, um pouco do meu mundo para o dele e
absorvendo parte do mundo dele também.
Estávamos sob as árvores, com o céu prometendo chuva, razão suficiente para nem estarmos lá, porém a conversa era tão boa que sequer nos
intimidamos. Não sei como, nem por que, mencionei a sequoia para ilustrar um pensamento e quando comecei
a falar-lhe das proporções dessa inigualável árvore, ele se interessou.
Imediatamente pegou o celular e foi pesquisar o assunto, pois eu já não tinha
dados precisos sobre suas características.
O interesse mútuo transformou-se em aprendizado, onde eu já
não comandava mais a situação, mas ele, que com maestria começou a me fornecer
dados que sua pesquisa mostrou. Ali, eu me encontrava no papel de aprendiz,
perplexa com as informações fornecidas. Por um instante, eu me surpreendi, não
com a magnitude das sequoias, mas com o momento de cumplicidade que o contexto
me revelou.
Da vida pouco sabemos,
sempre aprendemos, e muito ainda temos a aprender. E não me refiro a
informações culturais, mas ao aprendizado que o convívio pode nos proporcionar. Essa linha definida tia/sobrinho deixou de existir e deu lugar a
um momento raro: duas pessoas aprendendo sobre algo no mesmo patamar de
igualdade. Ali, não havia diferença de idade, diferença cultural ou qualquer
outra. Éramos dois aprendizes ávidos pelas informações das sequoias, mas o que
ele não sabia e minha experiência de vida me mostrava, é que estávamos, juntos, aprendendo a viver, a
conviver.
De repente, o céu deu sinal de vida, cumprindo a promessa
anterior de chuva e pudemos apreciar juntos o cheiro de terra molhada, com delicados
pingos que prenunciavam o iminente temporal.
O momento foi tão especial que ainda permanecemos um bom
tempo sem nos intimidarmos com a escuridão do céu. Em pensar que foram as
sequoias que nos ensinaram um convívio prazeroso, onde desfrutamos da companhia
um do outro, despojados de qualquer
diferença, nesse instante tão valorizado pela minha memória.
Por isso, aqui deixo minha dica: torne único cada momento de convívio, e se você não tiver as
sequoias como uma boa desculpa, pode se apoderar de qualquer outro tema para
exercitar uma interação única, destituída de qualquer diferença, que certamente
ficará guardada para sempre no baú
de suas lembranças.
Elizabeth F. de Oliveira